"A vida, mesmo que às vezes sofrida, é tão curta e tão bonita pra não ser vivida"

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Buscando a origem da timidez

Na minha primeira sessão, a terapeuta pediu que eu contasse minha história desde a lembrança mais antiga a fim de verificar como a timidez evoluiu nesse período. Vou contar resumidamente.

Dos netos da minha avó, eu fui o terceiro a nascer, no entanto quando eu nasci meus dois primos já moravam em outra cidade. Na vizinhança que eu morava não havia crianças, é aí que começou meu problema, desde pequeno eu não pratiquei como se relacionar socialmente.
No meu primeiro dia de aula eu lembro que no intervalo os colegas me chamaram para brincar de esconde-esconde e eu não fui porque não sabia brincar daquilo!
Eu tinha medo de entrar na escola, tanto que entrei só com 7 anos, mas não lembro se era medo das pessoas por causa da timidez ou se era só por não ter o dia todo para ficar brincando.

Quando eu entrei eu mudei de ideia e passei a gostar. No pré eu me dava bem com todos os colegas, mas não tinha uma amizade tão firme com nenhum porque nunca fui na casa de ninguém nem nunca foram na minha. No fim do ano as professoras viram que eu estava bem adiantado em comparação com o resto da turma e me mandaram direto pra segunda série. Esse fato de ter sido dispensado da primeira série me causou um pouco de problemas no futuro.

Até a quarta série eu permaneci na mesma escola e com os mesmos colegas. Todos gostavam de mim, e eu não era muito tímido, sempre participava das aulas, no recreio brincava com todos, cantava em festivais de música da escola, etc. Mas ainda assim era uma amizade só dentro da escola, fora dela não acontecia nada. Lembro que a primeira vez que eu levei colegas na minha casa foi quando eu fazia a quarta série.

Eu cursei da quinta série ao terceiro ano do ensino médio em outra escola, com outros colegas. Foi aí que a situação começou a piorar. Eu cheguei e me deparei com pessoas diferentes, que eu não conhecia. E por viver sempre com os mesmos, foi difícil a adaptação. Na quinta série o meu número na chamada foi o 24, o que gerou muitas piadinhas. Por eu ser um aluno interessado, os professores logo começaram a me dar mais atenção e os colegas começaram a me ver como nerd.

Na sexta série a barreira ficou ainda maior, eu me afastei por vontade própria, não por timidez mas porque não me sentia bem com eles. Fazia questão de mostrar que era um aluno aplicado e era até arrogante nesse ponto. Na nossa escola no início de cada ano havia uma eleição pra escolher o aluno lider, que seria aquele responsável pela turma em gincanas, arrecadações, etc. Por ser um cargo de responsabilidade, eu sempre queria ser eleito mas por causa do distanciamento poucas pessoas votavam em mim. Talvez numa atitude de piedade, na sétima série eles me elegeram. Isso me fez perder um pouco a antipatia e me enturmar com eles. Nesse ano teve uma festa junina e eu fui com dois colegas (eu adorava festa junina, dançava todo ano mas sempre ia com minha família), foi oficialmente a minha primeira saída com amigos.

Na oitava série fiz algumas amizades. Tinha 3 colegas que todo dia depois da aula vinham até minha casa pra gente jogar video-game. Mas os 3 tinham dificuldade e eu ensinava eles, era meio que uma amizade por interesse.

No ensino médio, apesar de ser a mesma turma, nós estávamos mais maduros e eu fiz algumas amizades com umas colegas. No terceiro ano eu comecei a ficar todos os dias dentro da sala na hora do recreio. De repente, eu ficava com vergonha de sair e ficar caminhando nos corredores sozinho. Pensava que iam me olhar e pensar que eu não tinha amigos.

Na questão de festas eu nunca tive muita vontade de sair. Eu tinha aversão à bebida, não gostava de sertanejo que é o ritmo que predomina aqui nem sabia dançar. Nunca fui convidado pra sair, mas se fosse certamente negaria.

Passei no vestibular e fui morar em outra cidade. Nesse intervalo eu já estava com um excesso de timidez em algumas situações e foi aí que eu comecei a pensar se eu podia estar com uma doença psicológica. Nessa época eu também senti que nunca tive um amigo de verdade, nunca tive um relacionamento e vi a mudança de cidade como uma oportunidade pra correr atrás do tempo perdido.

Me mudei, comecei a morar num alojamento com vários outros universitários. Cheguei lá e a timidez me atacou de forma assustadora. Nos primeiros dias eu não tinha coragem de sair pra fora e ir comer no refeitório. Passei uma semana almoçando e jantando biscoito de chocolate. Na faculdade, por sorte, já no primeiro dia o professor passou um trabalho em grupo e dois colegas perguntaram se eu queria fazer com eles. A gente foi pra biblioteca e fez o trabalho, mas sem muita interação. Outra vez eu estava estudando na biblioteca sozinho e um grupo de colegas foi me chamar pra estudar com eles. O meu curso é difícil, exige muita interação entre os colegas, por isso estamos estudando sempre em grupo. Assim foi fácil me enturmar, apesar de eu nunca tomar a atitude de convidar.

No alojamento eu passei a comer no refeitório, mas sempre buscava uma mesa vazia e um horário menos movimentado. Passava pelos vizinhos e não conseguia dizer nem oi. Alguns vizinhos tentavam conversar comigo mas eu só respondia coisas do tipo "aham", "não", "sim", ou dava uma risada sem graça. Foi indo eles desistiram de tentar puxar assunto comigo e eu parecia um fantasma, passava por eles e ninguém me notava. Nesse lugar havia sala de tv, sinuca, piscina, etc e eu nunca tive coragem de usar nenhum desses. Quando faziam festa e me chamavam eu sempre inventava uma desculpa pra não ir.

1 ano depois de ter começado a faculdade eu sai pela primeira vez com os colegas pra um bar. Fomos comemorar o meu aniversário e foi muito bom. A partir daí eu consegui me soltar mais com eles e a gente faz festas ou sai pra bares sempre que possível. Mas eu ainda tenho o problema de amizades superficiais. Eu não consigo conversar, não tenho assunto, não sei iniciar uma conversa, não sei manter um diálogo. Desse jeito as pessoas cansam de mim e eu acabo virando só um colega.

O meu terceiro da faculdade eu cursei em outra universidade. Fui pra uma cidade bem maior que aquela que eu morava e fiquei 2 semestres lá. De início, eu pensei que seria uma chance de aprimorar mais os avanços que eu tive quando mudei pela primeira vez, porque eu já estava incomodado com a timidez e tentava controlar sozinho. Chegando nessa cidade, estranhamente a timidez aumentou exponencialmente e eu não conseguia nem levantar a mão no ponto de ônibus. Perdi pontos por não responder questões oralmente em sala de aula, só escutava os debates sem dar minha opinião, não me sentia bem comendo no restaurante. Foi aí que eu resolvi procurar a terapia, porque até então na cidade onde eu morava não existia essa opção sem custo. Cheguei na cidade em março e só fui sair pra uma festa em setembro. Fui sozinho e incentivado pela terapeuta. No fim do ano sai pra mais festas e no final consegui até me socializar com meus colegas.

Isso é um pouco da minha história. Só relatei os acontecidos na vida escolar porque até os 20 anos minha vida era somente escola e casa.

4 comentários:

  1. li que vc procurou uma terapeuta então uma simples psicologa nao entendia bem os tímidos nao é isso? eu penso em procurar um psicologo mas acho o custo alto vc sabe dizer todas as faculdades federais tem esse tratamento?

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  2. então, esse tratamento foi com uma psicóloga sim, nos textos eu coloco terapeuta pq o nome do tratamento é terapia cognitiva-comportamental. E na verdade não era psicóloga ainda e sim estagiária, mas me ajudou muito. Eu acredito que em todas as universidades que têm curso de psicologia há os centros de atendimento. Nesse caso, o tratamento é gratuito ou é cobrada uma taxa simbólica pra manuntenção do local. Alguns planos de saúde também cobrem sessões com psicólogo e ainda algumas cidades possuem locais com atendimento gratuito chamados CAPS (centro de apoio psicossocial).

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  3. pow cara, história de vida muito parecida com a minha ,até a 4° série do ensino fundamental eu era uma pessoa bem sociavel , mas quando fui pro ginásio, 5° série , começou o inferno ,e o meu numero na chamada era o 24 também , sempre era muito zuado e nunca soube rebater uma zoação (até hoje ,com 20 anos).

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  4. Oi JR. Gostaria de obter seu msn, preciso muito conversar com vc.

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