No encontro seguinte, a terapeuta perguntou o que eu sentia quando comia na frente de alguém. Minha resposta foi que talvez a principal preocupação era que eu podia fazer alguma coisa errada como deixar cair na roupa e a pessoa ver., mas que eu não sabia direito porque ter esse receio. Foi aí que ela tirou um salgadinho da bolsa e pediu pra eu comer na frente dela enquanto a gente conversava. A sensação de mastigar e ela me olhar fixamente foi bem ruim, apesar de que tem um sentido diferente fazer na frente dela porque ela sabe da situação. Aí a gente começou a conversar e eu enrolei e não comi mais.
O que pensava sobre comer em público era parecido com o post anterior sobre beber na rua, mas ao contrário, comer nos "lugares adequados" sozinho também me incomodava. Em qualquer lanchonete, restaurante, eu compro e levo pra comer em casa. Durante a sessão a gente foi colocando os possíveis pensamentos que as pessoas poderiam ter ao me ver comendo um salgado na rua. Eu poderia estar com fome, talvez não tive tempo de almoçar, precisava ingerir algo antes de tomar um remédio, senti o cheiro quando passei na porta da lanchonete e fiquei com vontade, a pessoa tá olhando porque ficou com vontade e por aí vai. Não havia nenhum problema nisso. Claro que eu não iria comer de forma estranha, ficar com a boca toda suja porque isso sim chamaria a atenção, do contrário eu passaria despercebido e na pior das hipóteses alguém olharia e pensaria alguma das afirmações anteriores.
Parece fácil quando se imagina a situação mas na hora de colocar em prática não é tão simples. Por isso ela propôs que eu praticasse isso durante a semana. Na saída do centro eu fui para o ponto de ônibus e fiquei comendo o salgadinho que ela tinha me entregado. Fiquei olhando fixamente para um ponto qualquer e não percebi se alguém me olhou. Quando terminei de comer, atravessei todo o ponto e fui até a lixeira jogar o papel no lixo. Continuei firme sem prestar atenção nas pessoas.
Durante a semana eu fui ao supermercado e na volta vim comendo uma bolacha. Algumas pessoas passavam e eu tentava não observar. De forma inconsciente eu tentava disfarçar o movimento de pegar outra bolacha, sempre fazia quando não passava nenhuma pessoa ou nenhum carro.
No encontro seguinte eu relatei que consegui fazer mas que evitava olhar nas pessoas. Ela então pediu que tentasse repetir mas olhando nos olhos das pessoas enquanto eu mastigava. Nas primeiras tentativas eu continuava sentindo que estavam me julgando negativamente por comer na rua mas fazia um esforço e conseguia enfrentar essa sensação. Cada vez que eu repetia ia ficando mais fácil. Passei da bolacha para pão de queijo, depois salgado, outro dia com salgado e refrigerante, sentei numa lanchonete e comi um pastel... Hoje eu já não tenho tanta dificuldade pra fazer essas coisas, mas ainda vem aqueles pensamentos de que é melhor evitar isso. Em breve vou comentar sobre esses pensamentos.
Outra dificuldade que eu tinha relacionada à esse assunto era comer no restaurante universitário. Se fosse um restaurante comum eu via como uma situação constrangedora mas que se encerrava quando eu fosse embora. Agora no RU era diferente porque sempre estavam as mesmas pessoas, eu ficava com a impressão de que sempre iam me observar. Também havia a sensação de que poderiam perceber que eu estava mastigando feio, ou com a boca suja, ou que sujei a roupa, mas algo que me incomodava mais nessa situação específica era o fato de ir almoçar sozinho. Como estava em outra universidade não tinha amigos e sempre fazia as coisas sozinho. Mas eu colocava na cabeça que os outros iriam me ver almoçando sozinho e pensariam: "coitado, não tem amigos nem pra almoçar". Por causa disso eu buscava ir em horários onde o movimento era menor, tentava achar uma mesa vazia e comia super rápido. No jantar onde o movimento era menos da metade do movimento do almoço eu sentia que era mais fácil. Mas então a terapeuta me fez umas indagações: comer rápido não chama mais atenção do que comer normal? ficar sozinho numa mesa não me deixa mais exposto do que se tivesse numa mesa cheia? ir quando tem poucas pessoas não aumenta a probabilidade delas me notarem?
Ela então explicou que esses eram medos infundados, que estavam surgindo por causa dos julgamentos que eu fazia de mim mesmo e tentava transpôr para as outras pessoas. Eu realmente não prestava muita atenção nas outras pessoas. A não ser que ela estivesse sentada na minha frente na mesma mesa, não teria como observar a roupa suja de comida, ou uma mastigação estranha. Quanto ao fato de ir sozinho, a terapeuta perguntou se eu tinha amigos e eu disse que naquela universidade não. Aí ela disse que as pessoas não sabiam a quanto tempo eu estava naquela universidade. Eu poderia ser um calouro e por isso ainda não ter feito amizades. Ou eu poderia ter saído mais cedo da aula por causa de uma prova. Mas eu pensava que por ir sozinho todos os dias, as pessoas iriam pensar justamente aquilo. Ela então perguntou se eu observo todo dia a mesma pessoa na hora do almoço e quantas vezes eu já vi ela (a terapeuta, que também almoça lá) almoçando. Realmente eu não observava sempre as mesmas pessoas, inclusive nunca vi a terapeuta lá. Em média almoçavam 5 mil pessoas por dia, não faz sentido imaginar que essas 5 mil vão almoçar no mesmo horário que eu e que todo dia vão me ver.
Aos poucos eu fui criando coragem e enfrentando esses medos do RU, mas foi uma das dificulidades mais difíceis de vencer.
O principal que eu aprendi nesses dois encontros foi que as pessoas não ficam o tempo todo observando se a pessoa do lado tá comendo direito, mastigando bem, tá segurando o talher da forma correta. As preocupações do dia-a-dia são mais relevantes que um desconhecido qualquer, por isso não faz sentido evitar essas situações por medo de julgamentos que não vão existir. Uma forma de praticar isso é quando sair de algum lugar tentar lembrar dos detalhes das pessoas como a cor da roupa ou o que fizeram (claro que sem entrar no lugar com o intuito de prestar atenção nesses detalhes). Quando sair, você não lembrará de muita coisa porque mesmo que tenha observado, foi uma coisa passageira que não significou tanto a ponto de ser guardado na memória.
O que pensava sobre comer em público era parecido com o post anterior sobre beber na rua, mas ao contrário, comer nos "lugares adequados" sozinho também me incomodava. Em qualquer lanchonete, restaurante, eu compro e levo pra comer em casa. Durante a sessão a gente foi colocando os possíveis pensamentos que as pessoas poderiam ter ao me ver comendo um salgado na rua. Eu poderia estar com fome, talvez não tive tempo de almoçar, precisava ingerir algo antes de tomar um remédio, senti o cheiro quando passei na porta da lanchonete e fiquei com vontade, a pessoa tá olhando porque ficou com vontade e por aí vai. Não havia nenhum problema nisso. Claro que eu não iria comer de forma estranha, ficar com a boca toda suja porque isso sim chamaria a atenção, do contrário eu passaria despercebido e na pior das hipóteses alguém olharia e pensaria alguma das afirmações anteriores.
Parece fácil quando se imagina a situação mas na hora de colocar em prática não é tão simples. Por isso ela propôs que eu praticasse isso durante a semana. Na saída do centro eu fui para o ponto de ônibus e fiquei comendo o salgadinho que ela tinha me entregado. Fiquei olhando fixamente para um ponto qualquer e não percebi se alguém me olhou. Quando terminei de comer, atravessei todo o ponto e fui até a lixeira jogar o papel no lixo. Continuei firme sem prestar atenção nas pessoas.
Durante a semana eu fui ao supermercado e na volta vim comendo uma bolacha. Algumas pessoas passavam e eu tentava não observar. De forma inconsciente eu tentava disfarçar o movimento de pegar outra bolacha, sempre fazia quando não passava nenhuma pessoa ou nenhum carro.
No encontro seguinte eu relatei que consegui fazer mas que evitava olhar nas pessoas. Ela então pediu que tentasse repetir mas olhando nos olhos das pessoas enquanto eu mastigava. Nas primeiras tentativas eu continuava sentindo que estavam me julgando negativamente por comer na rua mas fazia um esforço e conseguia enfrentar essa sensação. Cada vez que eu repetia ia ficando mais fácil. Passei da bolacha para pão de queijo, depois salgado, outro dia com salgado e refrigerante, sentei numa lanchonete e comi um pastel... Hoje eu já não tenho tanta dificuldade pra fazer essas coisas, mas ainda vem aqueles pensamentos de que é melhor evitar isso. Em breve vou comentar sobre esses pensamentos.
Outra dificuldade que eu tinha relacionada à esse assunto era comer no restaurante universitário. Se fosse um restaurante comum eu via como uma situação constrangedora mas que se encerrava quando eu fosse embora. Agora no RU era diferente porque sempre estavam as mesmas pessoas, eu ficava com a impressão de que sempre iam me observar. Também havia a sensação de que poderiam perceber que eu estava mastigando feio, ou com a boca suja, ou que sujei a roupa, mas algo que me incomodava mais nessa situação específica era o fato de ir almoçar sozinho. Como estava em outra universidade não tinha amigos e sempre fazia as coisas sozinho. Mas eu colocava na cabeça que os outros iriam me ver almoçando sozinho e pensariam: "coitado, não tem amigos nem pra almoçar". Por causa disso eu buscava ir em horários onde o movimento era menor, tentava achar uma mesa vazia e comia super rápido. No jantar onde o movimento era menos da metade do movimento do almoço eu sentia que era mais fácil. Mas então a terapeuta me fez umas indagações: comer rápido não chama mais atenção do que comer normal? ficar sozinho numa mesa não me deixa mais exposto do que se tivesse numa mesa cheia? ir quando tem poucas pessoas não aumenta a probabilidade delas me notarem?
Ela então explicou que esses eram medos infundados, que estavam surgindo por causa dos julgamentos que eu fazia de mim mesmo e tentava transpôr para as outras pessoas. Eu realmente não prestava muita atenção nas outras pessoas. A não ser que ela estivesse sentada na minha frente na mesma mesa, não teria como observar a roupa suja de comida, ou uma mastigação estranha. Quanto ao fato de ir sozinho, a terapeuta perguntou se eu tinha amigos e eu disse que naquela universidade não. Aí ela disse que as pessoas não sabiam a quanto tempo eu estava naquela universidade. Eu poderia ser um calouro e por isso ainda não ter feito amizades. Ou eu poderia ter saído mais cedo da aula por causa de uma prova. Mas eu pensava que por ir sozinho todos os dias, as pessoas iriam pensar justamente aquilo. Ela então perguntou se eu observo todo dia a mesma pessoa na hora do almoço e quantas vezes eu já vi ela (a terapeuta, que também almoça lá) almoçando. Realmente eu não observava sempre as mesmas pessoas, inclusive nunca vi a terapeuta lá. Em média almoçavam 5 mil pessoas por dia, não faz sentido imaginar que essas 5 mil vão almoçar no mesmo horário que eu e que todo dia vão me ver.
Aos poucos eu fui criando coragem e enfrentando esses medos do RU, mas foi uma das dificulidades mais difíceis de vencer.
O principal que eu aprendi nesses dois encontros foi que as pessoas não ficam o tempo todo observando se a pessoa do lado tá comendo direito, mastigando bem, tá segurando o talher da forma correta. As preocupações do dia-a-dia são mais relevantes que um desconhecido qualquer, por isso não faz sentido evitar essas situações por medo de julgamentos que não vão existir. Uma forma de praticar isso é quando sair de algum lugar tentar lembrar dos detalhes das pessoas como a cor da roupa ou o que fizeram (claro que sem entrar no lugar com o intuito de prestar atenção nesses detalhes). Quando sair, você não lembrará de muita coisa porque mesmo que tenha observado, foi uma coisa passageira que não significou tanto a ponto de ser guardado na memória.
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