Talvez tantos anos sem grandes amizades criaram mais do que uma carência, criaram uma necessidade de estar acompanhado. Todos os meus momentos de timidez envolvem situações que eu estou sozinho. Se tiver outra pessoa comigo eu não sinto tanta vergonha.
Outra coisa que possivelmente tem a ver com os anos de solidão é a vontade de sair sempre. Depois que entrei na faculdade comecei a sair pra festas, coisa que nunca havia feito antes. Foi então que passei a querer ir pra todo tipo de festa, como se estivesse no auge da adolescência. Mas por falta de companhia acabo não indo. Sempre digo que o pior da timidez nesse caso não é lembrar dos anos perdidos mas sim ter criado coragem e vontade de sair e não ter companhia.
A primeira vez que eu fui em uma balada sozinho foi um desastre. Cheguei meia noite e paguei 35 só pra entrar, levei uns foras, acabou o dinheiro pra bebida e fui embora 2:30h. Pode ser até uma ilusão, mas imagino que ir com um amigo fica mais fácil até pra levar um fora, porque você pode fazer piada da situação, rir e tal. Outra coisa que me incomodou foi que de todo mundo que eu observei nessa balada, além de mim o único sozinho era um cara velho que ficava isolado num cantinho. Além de eu ter pensado nessa hora "coitado, ele não tem amigos", eu imaginei estar vendo meu futuro.
Algo que eu gosto muito e costumo ir sozinho é show. A maioria dos que eu fui eu estava sozinho. Na hora de chegar é horrível porque eu vejo todo mundo em grupos e só eu sozinho. Enquanto o show não começa é pior ainda, porque todos ficam bebendo e conversando juntos e eu fico de braços cruzados olhando pro ar. Quando o começa o show a situação melhora, mas eu continuo me sentido estranho. Depois de algumas músicas eu esqueço tudo e começo a cantar e dançar sem medo de ser feliz. No final, eu pego e vou embora enquanto os outros continuam juntos andando e conversando.
Aproveitei que teria um show que eu gosto muito e contei isso para a terapeuta. Seria a oportunidade ideal pra tentar mudar esses pensamentos. Todas as idéias dos encontros anteriores podiam ser aplicados aqui de novo, tanto que a nossa conversa foi parecida com as anteriores. Ela me alertou pro fato de que uma pessoa vai pra se divertir e não pra ficar observando os outros. Se você olha para o lado e vê uma pessoa sozinha pode ser porque a companhia dela foi comprar bebida, foi no banheiro, ainda nao chegou, etc. Se eu vou sozinho no show pode ser porque meus amigos não gostam do cantor, ou estavam sem dinheiro. Pode ser que eu seja de outra cidade e tenha ido para o show do meu ídolo. Enfim, ela apontou várias possibilidades de pensamentos que os outros poderiam ter a meu respeito que não seriam ruíns. Aí ela também treinou comigo algumas respostas que eu poderia dar caso alguém perguntasse se eu iria sozinho. Inicialmente eu responderia assim:
Pessoa: Você vai sozinho no show?
Eu: vou..... (de uma forma bem cabisbaixa)
Pessoa: Por quê?
Eu: ah, porque não tem ninguém pra ir comigo......
Ela disse que essa resposta nessa entonação e com essas palavras só ia reafirmar o que eu tanto temia - a idéia de que eu não tinha amigos. Então ela pediu pra eu tentar mudar, colocar mais firmeza e ser mais assertivo:
Pessoa: Com quem você vai no show?
Eu: Por enquanto com ninguém, vamos?!
Pessoa: Você vai no show com quem?
Eu: Sozinho! Gosto tanto que vou até debaixo de chuva!
Pessoa: Você foi sozinho no show?
Eu: Fui sim, e estava tão divertido que você não faz idéia do que perdeu!
Assim, eu fui tentar colocar em prática.
Era a primeira vez que eu ia no local do show, não sabia direito como chegar. Fui para o ponto de ônibus e perguntei para umas pessoas se o ônibus que eu queria passava ali (pedir informação era uma coisa que eu também tinha dificuldade). Quando o ônibus parou, uma outra pessoa que estava no ponto perguntou para o cobrador se aquele ônibus passava no lugar do show e eu aproveitei e entrei.
Pensei que se encontrasse alguém indo também sozinho iria sentar junto e tentar puxar assunto, mas todos estavam acompanhados. Quando eu vi que eles iam descer, eu fui atrás. Pensei em tentar me enturmar mas achei melhor não. Fui andando, conhecendo o lugar, quando cheguei na portaria vi vários alunos meus (em grupos) e tentei não me incomodar. Eles ainda não me conheciam, então não conversamos.
Entrei, passei pelo bar e resolvi comprar uma cerveja. Eu nunca tinha tomado cerveja sozinho em algo assim. Logo em seguida começou o show de abertura, e desde o início eu comecei a cantar e dançar. Constantemente olhava para os lados pra ver se encontrava algum conhecido e também pra observar se havia mais alguém sozinho, e havia sim! Isso me animou e eu parei de me preocupar.
O show principal era de lançamento de um DVD, as músicas eram todas inéditas mas eu já sabia cantar todas porque consegui o CD em primeira mão. Daí eu sentia como se tivesse pagando um mico com todo mundo calado e eu lá pulando e cantando feito doido, mas consegui controlar isso e não parei um minuto.
Acabou o show e começou o show de encerramento. Nessa hora me deu vontade de ir embora porque começaram de novo os pensamentos negativos. Forcei e ao invés de ir embora, fui pra frente do palco! Além das pessoas me verem dançando, até os cantores estavam vendo agora. Não importei, fiquei assim até o final. Quando acabou tudo, eu fui embora.
No fim, eu tive um desempenho ótimo. Fiquei muito contente de ter tido momentos de recaída e ter conseguido enfrentá-los até vencer.
Outra coisa que possivelmente tem a ver com os anos de solidão é a vontade de sair sempre. Depois que entrei na faculdade comecei a sair pra festas, coisa que nunca havia feito antes. Foi então que passei a querer ir pra todo tipo de festa, como se estivesse no auge da adolescência. Mas por falta de companhia acabo não indo. Sempre digo que o pior da timidez nesse caso não é lembrar dos anos perdidos mas sim ter criado coragem e vontade de sair e não ter companhia.
A primeira vez que eu fui em uma balada sozinho foi um desastre. Cheguei meia noite e paguei 35 só pra entrar, levei uns foras, acabou o dinheiro pra bebida e fui embora 2:30h. Pode ser até uma ilusão, mas imagino que ir com um amigo fica mais fácil até pra levar um fora, porque você pode fazer piada da situação, rir e tal. Outra coisa que me incomodou foi que de todo mundo que eu observei nessa balada, além de mim o único sozinho era um cara velho que ficava isolado num cantinho. Além de eu ter pensado nessa hora "coitado, ele não tem amigos", eu imaginei estar vendo meu futuro.
Algo que eu gosto muito e costumo ir sozinho é show. A maioria dos que eu fui eu estava sozinho. Na hora de chegar é horrível porque eu vejo todo mundo em grupos e só eu sozinho. Enquanto o show não começa é pior ainda, porque todos ficam bebendo e conversando juntos e eu fico de braços cruzados olhando pro ar. Quando o começa o show a situação melhora, mas eu continuo me sentido estranho. Depois de algumas músicas eu esqueço tudo e começo a cantar e dançar sem medo de ser feliz. No final, eu pego e vou embora enquanto os outros continuam juntos andando e conversando.
Aproveitei que teria um show que eu gosto muito e contei isso para a terapeuta. Seria a oportunidade ideal pra tentar mudar esses pensamentos. Todas as idéias dos encontros anteriores podiam ser aplicados aqui de novo, tanto que a nossa conversa foi parecida com as anteriores. Ela me alertou pro fato de que uma pessoa vai pra se divertir e não pra ficar observando os outros. Se você olha para o lado e vê uma pessoa sozinha pode ser porque a companhia dela foi comprar bebida, foi no banheiro, ainda nao chegou, etc. Se eu vou sozinho no show pode ser porque meus amigos não gostam do cantor, ou estavam sem dinheiro. Pode ser que eu seja de outra cidade e tenha ido para o show do meu ídolo. Enfim, ela apontou várias possibilidades de pensamentos que os outros poderiam ter a meu respeito que não seriam ruíns. Aí ela também treinou comigo algumas respostas que eu poderia dar caso alguém perguntasse se eu iria sozinho. Inicialmente eu responderia assim:
Pessoa: Você vai sozinho no show?
Eu: vou..... (de uma forma bem cabisbaixa)
Pessoa: Por quê?
Eu: ah, porque não tem ninguém pra ir comigo......
Ela disse que essa resposta nessa entonação e com essas palavras só ia reafirmar o que eu tanto temia - a idéia de que eu não tinha amigos. Então ela pediu pra eu tentar mudar, colocar mais firmeza e ser mais assertivo:
Pessoa: Com quem você vai no show?
Eu: Por enquanto com ninguém, vamos?!
Pessoa: Você vai no show com quem?
Eu: Sozinho! Gosto tanto que vou até debaixo de chuva!
Pessoa: Você foi sozinho no show?
Eu: Fui sim, e estava tão divertido que você não faz idéia do que perdeu!
Assim, eu fui tentar colocar em prática.
Era a primeira vez que eu ia no local do show, não sabia direito como chegar. Fui para o ponto de ônibus e perguntei para umas pessoas se o ônibus que eu queria passava ali (pedir informação era uma coisa que eu também tinha dificuldade). Quando o ônibus parou, uma outra pessoa que estava no ponto perguntou para o cobrador se aquele ônibus passava no lugar do show e eu aproveitei e entrei.
Pensei que se encontrasse alguém indo também sozinho iria sentar junto e tentar puxar assunto, mas todos estavam acompanhados. Quando eu vi que eles iam descer, eu fui atrás. Pensei em tentar me enturmar mas achei melhor não. Fui andando, conhecendo o lugar, quando cheguei na portaria vi vários alunos meus (em grupos) e tentei não me incomodar. Eles ainda não me conheciam, então não conversamos.
Entrei, passei pelo bar e resolvi comprar uma cerveja. Eu nunca tinha tomado cerveja sozinho em algo assim. Logo em seguida começou o show de abertura, e desde o início eu comecei a cantar e dançar. Constantemente olhava para os lados pra ver se encontrava algum conhecido e também pra observar se havia mais alguém sozinho, e havia sim! Isso me animou e eu parei de me preocupar.
O show principal era de lançamento de um DVD, as músicas eram todas inéditas mas eu já sabia cantar todas porque consegui o CD em primeira mão. Daí eu sentia como se tivesse pagando um mico com todo mundo calado e eu lá pulando e cantando feito doido, mas consegui controlar isso e não parei um minuto.
Acabou o show e começou o show de encerramento. Nessa hora me deu vontade de ir embora porque começaram de novo os pensamentos negativos. Forcei e ao invés de ir embora, fui pra frente do palco! Além das pessoas me verem dançando, até os cantores estavam vendo agora. Não importei, fiquei assim até o final. Quando acabou tudo, eu fui embora.
No fim, eu tive um desempenho ótimo. Fiquei muito contente de ter tido momentos de recaída e ter conseguido enfrentá-los até vencer.