Esse episódio foi um dos últimos da minha terapia, mas eu quero contar logo antes que esqueça dos detalhes.
Só pra relembrar, em 2010 eu estava em outra universidade. Não fiz nenhum amigo porque só fiz matérias com turmas que já estavam terminando o curso, assim as panelinhas já eram bem formadas e não foi fácil "entrar". Em novembro teve um congresso em outra cidade e eu me inscrevi porque ia rever meus colegas da minha faculdade. Comecei a pesquisar preços de ônibus pq iria sozinho. Daí me falaram que ia sair um ônibus da universidade. No momento pensei em ir sozinho mesmo porque ficaria com vergonha de viajar com o pessoal que eu não conhecia, mas acabei colocando meu nome na lista pra tentar enfrentar e também pra economizar hehe.
Antes da viagem eu falei com a psicológa e ela me orientou a ficar calmo, tentar conversar, responder com calma... Ela passou 3 tarefas: conversar com alguém antes, durante e depois.
Chegou o dia e eu fui pro local de onde saíria. Só tinha uma menina que eu não conhecia. Eu cheguei e perguntei se ela iria para o congresso, ela confirmou e disse que chegou muito cedo. Nos meus tempos antigos, eu daria um riso leve e encerraria por ali a conversa. Mas consegui dizer que eu também cheguei mais cedo, porque sai cedo de casa com medo de perder o ônibus.
Enquanto esperávamos, foram chegando mais pessoas. Uma que eu conhecia estava conversando com os amigos e pediu que eu tirasse uma foto. Foi tranquilo, não senti nada, tirei a foto e continuei esperando.
Aconteceu que deu um problema no ônibus e ele iria chegar só 2 horas depois. Eu resolvi não voltar pra casa porque era um pouco longe, não ia compensar. Aí vi 3 pessoas que eu conhecia saindo e indo andar pelo centro. Juntei muita coragem e perguntei: vocês vão ficar aqui pelo centro mesmo? acho que também foi ficar porque até chegar na minha casa já é hora de voltar pra cá.
aí uma respondeu: sim, a gente vai dar uma andada. Você pode vir com a gente.
Esse "você pode" foi muito ruim. Deu a impressão de que estavam fazendo um favor pra mim. Mas mesmo assim eu fui. Durante o caminho não conversei nada, mas fiquei atento na conversa esperando uma hora de falar. Chegamos num shopping e duas meninas foram comprar brincos e eu fiquei esperando do lado de fora com o colega. Eu resolvi perguntar de uma prova que a gente havia feito. Eu disse:
- Você acha que se saiu bem na prova de ontem?
- Ah tem que esperar o resultado né
- É... na primeira eu tirei 27
- A primeira eu sai bem tbm, tirei 26
E acabou ai. Depois ele falou que elas tavam demorando demais e eu só respondi com um "é mesmo". A gente caminhou mais um pouco e depois fomos almoçar. Em alguns momentos eu entrava na conversa e comentava alguma coisa. Já estava me sentindo bem mais tranquilo e introsado.
O ônibus chegou e nós entramos. eu sentei numa poltrona vazia e ninguém sentou do meu lado. Confesso que gostei disso. Acabou que eu não falei nada com ninguém durante a viagem como a psicóloga havia proposto.
Chegando no local, eu ficaria hospedado numa república de uns estudantes que eu encontrei no orkut. combinei o preço com eles e peguei o endereço. Cheguei lá e eles me mostraram o quarto, eu fiquei o tempo todo lá. A noite havia um coquetel e eu perguntei se tinha horário pra voltar ou se eles me emprestavam uma chave. No outro dia acordei e fui para a sala assistir televisão com eles mas não consegui conversar nada, só respondia algumas perguntas deles.
Durante o evento eu encontrei com meus colegas da minha faculdade e fiquei com eles. Foi o primeiro encontro depois do inicio da terapia e eu fiquei um pouco apreensivo, com medo de não conseguir mostrar resultados e tal. Acabou indo tudo bem, contei histórias do meu intercâmbio, perguntei das novidades, conversamos bastante, fomos pra festa, etc.
Teve um coquetel que eu fui com meus colegas. Lá eu bebi e comecei a dançar. Todo mundo que tinha viajado comigo ficava assustado com a minha diversão, porque o Jr que eles conheciam era super tímido e calado. Quando eles chegavam e falavam coisas do tipo "noossa você tá bebendo?", "que isso?!", "uai você dança?", "gente, esse é o Jr que eu conheço?" eu ficava com um pouco de vergonha, mas já tinham sido tantas vodkas que eu nem liguei tanto.
No outro dia, todo esse pessoal veio falar comigo. Disseram que eu surpreendi, que não sabiam que eu gostava de festa, que eu parecia muito fechado e que por isso eles não se aproximavam, me chamaram pra sair com eles... Foi um banho de água fria porque eu percebi que perdi tempo com medo deles, enquanto eles que tinham medo de mim.
A partir desse dia, sempre que eles me encontravam na faculdade me cumprimentavam, perguntavam quando a gente ia sair e tal. No meu último dia nessa universidade a gente tirou fotos, eles disseram que gostaram de me conhecer apesar de eu ser muito calado, até os professores se despediram de mim.
Uma lição ENORME que eu tirei disso tudo foi que grandes amizades são perdidas por causa da timidez. Quando eu cheguei, as panelinhas já estavam formadas mesmo, eles todos já se conheciam e eu era um estranho. Mas eu chegava e só dizia um bom dia. Podia chegar e perguntar da universidade, conversar sobre os nossos cursos. Quando tinha um trabalho em grupo eu sempre era o último a ser escolhido, talvez eles não me chamavam porque pensavam que eu gostava de fazer sozinho. Se eu tomasse a atitude de convidá-los, o ano teria sido muito melhor.
A partir de agora eu sempre tento me aproximar das pessoas. Algumas vezes não dá certo, a pessoa se mostra desinteressada e a vergonha vai lá em cima, mas pelo menos eu tentei.
PS: apesar do título, eu não tenho vergonha de viajar com desconhecidos, como num ônibus de viagem. A dificuldade nesse caso seria porque viagens de faculdade são sempre animadas, o pessoal sempre se diverte e eu estava com medo de não interagir com eles.
Só pra relembrar, em 2010 eu estava em outra universidade. Não fiz nenhum amigo porque só fiz matérias com turmas que já estavam terminando o curso, assim as panelinhas já eram bem formadas e não foi fácil "entrar". Em novembro teve um congresso em outra cidade e eu me inscrevi porque ia rever meus colegas da minha faculdade. Comecei a pesquisar preços de ônibus pq iria sozinho. Daí me falaram que ia sair um ônibus da universidade. No momento pensei em ir sozinho mesmo porque ficaria com vergonha de viajar com o pessoal que eu não conhecia, mas acabei colocando meu nome na lista pra tentar enfrentar e também pra economizar hehe.
Antes da viagem eu falei com a psicológa e ela me orientou a ficar calmo, tentar conversar, responder com calma... Ela passou 3 tarefas: conversar com alguém antes, durante e depois.
Chegou o dia e eu fui pro local de onde saíria. Só tinha uma menina que eu não conhecia. Eu cheguei e perguntei se ela iria para o congresso, ela confirmou e disse que chegou muito cedo. Nos meus tempos antigos, eu daria um riso leve e encerraria por ali a conversa. Mas consegui dizer que eu também cheguei mais cedo, porque sai cedo de casa com medo de perder o ônibus.
Enquanto esperávamos, foram chegando mais pessoas. Uma que eu conhecia estava conversando com os amigos e pediu que eu tirasse uma foto. Foi tranquilo, não senti nada, tirei a foto e continuei esperando.
Aconteceu que deu um problema no ônibus e ele iria chegar só 2 horas depois. Eu resolvi não voltar pra casa porque era um pouco longe, não ia compensar. Aí vi 3 pessoas que eu conhecia saindo e indo andar pelo centro. Juntei muita coragem e perguntei: vocês vão ficar aqui pelo centro mesmo? acho que também foi ficar porque até chegar na minha casa já é hora de voltar pra cá.
aí uma respondeu: sim, a gente vai dar uma andada. Você pode vir com a gente.
Esse "você pode" foi muito ruim. Deu a impressão de que estavam fazendo um favor pra mim. Mas mesmo assim eu fui. Durante o caminho não conversei nada, mas fiquei atento na conversa esperando uma hora de falar. Chegamos num shopping e duas meninas foram comprar brincos e eu fiquei esperando do lado de fora com o colega. Eu resolvi perguntar de uma prova que a gente havia feito. Eu disse:
- Você acha que se saiu bem na prova de ontem?
- Ah tem que esperar o resultado né
- É... na primeira eu tirei 27
- A primeira eu sai bem tbm, tirei 26
E acabou ai. Depois ele falou que elas tavam demorando demais e eu só respondi com um "é mesmo". A gente caminhou mais um pouco e depois fomos almoçar. Em alguns momentos eu entrava na conversa e comentava alguma coisa. Já estava me sentindo bem mais tranquilo e introsado.
O ônibus chegou e nós entramos. eu sentei numa poltrona vazia e ninguém sentou do meu lado. Confesso que gostei disso. Acabou que eu não falei nada com ninguém durante a viagem como a psicóloga havia proposto.
Chegando no local, eu ficaria hospedado numa república de uns estudantes que eu encontrei no orkut. combinei o preço com eles e peguei o endereço. Cheguei lá e eles me mostraram o quarto, eu fiquei o tempo todo lá. A noite havia um coquetel e eu perguntei se tinha horário pra voltar ou se eles me emprestavam uma chave. No outro dia acordei e fui para a sala assistir televisão com eles mas não consegui conversar nada, só respondia algumas perguntas deles.
Durante o evento eu encontrei com meus colegas da minha faculdade e fiquei com eles. Foi o primeiro encontro depois do inicio da terapia e eu fiquei um pouco apreensivo, com medo de não conseguir mostrar resultados e tal. Acabou indo tudo bem, contei histórias do meu intercâmbio, perguntei das novidades, conversamos bastante, fomos pra festa, etc.
Teve um coquetel que eu fui com meus colegas. Lá eu bebi e comecei a dançar. Todo mundo que tinha viajado comigo ficava assustado com a minha diversão, porque o Jr que eles conheciam era super tímido e calado. Quando eles chegavam e falavam coisas do tipo "noossa você tá bebendo?", "que isso?!", "uai você dança?", "gente, esse é o Jr que eu conheço?" eu ficava com um pouco de vergonha, mas já tinham sido tantas vodkas que eu nem liguei tanto.
No outro dia, todo esse pessoal veio falar comigo. Disseram que eu surpreendi, que não sabiam que eu gostava de festa, que eu parecia muito fechado e que por isso eles não se aproximavam, me chamaram pra sair com eles... Foi um banho de água fria porque eu percebi que perdi tempo com medo deles, enquanto eles que tinham medo de mim.
A partir desse dia, sempre que eles me encontravam na faculdade me cumprimentavam, perguntavam quando a gente ia sair e tal. No meu último dia nessa universidade a gente tirou fotos, eles disseram que gostaram de me conhecer apesar de eu ser muito calado, até os professores se despediram de mim.
Uma lição ENORME que eu tirei disso tudo foi que grandes amizades são perdidas por causa da timidez. Quando eu cheguei, as panelinhas já estavam formadas mesmo, eles todos já se conheciam e eu era um estranho. Mas eu chegava e só dizia um bom dia. Podia chegar e perguntar da universidade, conversar sobre os nossos cursos. Quando tinha um trabalho em grupo eu sempre era o último a ser escolhido, talvez eles não me chamavam porque pensavam que eu gostava de fazer sozinho. Se eu tomasse a atitude de convidá-los, o ano teria sido muito melhor.
A partir de agora eu sempre tento me aproximar das pessoas. Algumas vezes não dá certo, a pessoa se mostra desinteressada e a vergonha vai lá em cima, mas pelo menos eu tentei.
PS: apesar do título, eu não tenho vergonha de viajar com desconhecidos, como num ônibus de viagem. A dificuldade nesse caso seria porque viagens de faculdade são sempre animadas, o pessoal sempre se diverte e eu estava com medo de não interagir com eles.
Cara gostei do blog, vou sempre acompanhar sua jornada. Te desejo sorte. Também tenho problemas de timidez e com seus comentários vou tentar mudar. Muito bacana sua iniciativa de postar sua vida para todos. Mais uma vez parabéns e espero que de tudo certo ae ;
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